Para inovar no processo de ensino-aprendizagem, projeto nascido na UFRGS reúne softwares para Android que podem ser usados e modificados livremente
por Maria Victória Oliveira
Já imaginou se uma tabela reunisse vários aplicativos livres para
celulares e tablets do sistema Android? E se essa tabela também
apresentasse indicações de quais disciplinas poderiam usar o recurso?
Melhor ainda, não é? Pois agora isso existe, graças ao projeto “Software Educacional livre para Dispositivos Móveis”.
Elaborada pelo professor Paulo Francisco Slomp e pelo estudante André
Ferreira Machado, ambos da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do
Sul), a tabela
reúne 305 aplicativos, que podem ser usados como complemento para o
processo de ensino-aprendizagem. Desses, 78 servem para a educação
infantil, 154 para os anos iniciais do ensino fundamental, 173 para os
anos finais do ensino fundamental, 181 para o Ensino Médio e 203 para o
Ensino Superior.
Para quem não sabe, o nome software livre significa, no caso da tabela, que o aplicativo é um REA (Recurso Educacional Aberto).
A sigla, por sua vez, é usada para designar um material educativo
licenciado de forma pública, permitindo que qualquer pessoa interessada
use ou adapte o conteúdo da forma como preferir.
Os aplicativos que figuram na tabela começaram a ser analisados em
abril de 2015. O projeto foi finalizado em fevereiro de 2016, quando a
compilação foi lançada de forma aberta ao público, tanto para
visualizações quanto para contribuições. “A tabela está sob uma licença
de Creative Commons. A gente selecionou mais de 300 aplicativos, mas
eles surgem a todo instante. Mantendo a tabela aberta, cada um pode
colocar novos aplicativos que nós não conhecemos”, defende Ferreira.
Segundo ele, essa é exatamente a filosofia do software livre.
Dentro da tabela, o material também é dividido por área de
conhecimento. Entre elas: acessibilidade, biologia, educação física,
educação artística, ensino religioso, física (subdividida em categorias
como acústica, astronomia e atmosfera), geografia (também subdividida em
categorias como atmosfera, bússola, capitais e mapas), idiomas
(bibliotecas, catalão, coreano, entre outras), informática (redes e
programação), jogo, matemática (álgebra, ângulos, aritmética,
calculadora financeira, entre outras), medicina, música, química
(eletroforese, isótropos, jogo, moléculas e tabela periódica) e
sociologia.
Navegando pelo mapeamento, é possível perceber que algumas áreas
contam com maior número de recursos disponíveis. Para matemática, por
exemplo, existem 61 aplicativos; física conta com 25 e geografia com 33.
“Existe uma grande quantidade de aplicativos para áreas de ciências e
exatas, além de geografia. É uma opinião pessoal, mas eu acho que as
pessoas que desenvolvem os aplicativos são mais inclinadas a ciências
exatas, por isso o maior número”, defende Ferreira.
Mudança de planos
Apesar do resultado final, o projeto surgiu com uma proposta
diferente. “Em 2013, eu e meu orientador percebemos que tinha uma
categoria na Wikipedia em inglês só sobre software educacional livre, e
que essa mesma categoria não existia em português. Então nós começamos a
traduzir os artigos para nossa língua”, relata o estudante de
matemática da UFRGS, André Ferreira. Ele conta que, no meio desse
processo, surgiu a ideia de criar uma tabela para catalogar alguns dos
programas citados nos artigos. Em 2014, a proposta resultou em uma
tabela de softwares educacionais livres para desktop (computadores de
mesa).
Entretanto, com o aumento do uso de smartphones, o projeto tomou uma
nova direção. “Depois que nós fizemos a tabela de programas para
desktop, pensamos em fazer uma versão para dispositivos móveis, já que o
uso desses aparelhos está cada vez maior no Brasil”, explica.
A escolha pela tabulação de aplicativos do sistema Android, segundo
Ferreira, foi por uma questão prática. “A iTunes Store (a loja da Apple,
que usa sistema operacional IOS) não aceita aplicativos sob licenças
livres. Já a Google Play Store (loja do sistema operacional Android)
aceita diferentes tipos de licenças livres, menos a GPL (do inglês,
Licença Pública Geral).
Critérios de Seleção
O principal critério utilizado para a seleção dos aplicativos foi a
finalidade educacional. Durante o processo de avaliação dos softwares,
Ferreira e Slomp utilizaram, entre outras, uma lista do site F-Droid,
que reúne um catálogo de softwares gratuitos de código aberto para
Android.
Segundo Ferreira, o F-Droid tem uma categoria chamada Ciência e
Educação. Juntamente com o seu orientador, ele fez o download e avaliou
cada programa dessa área, para depois colocá-lo na tabela. “Nesse
processo, nós percebemos que muitos softwares não estão categorizados
como Ciência e Educação, mas podem ser usados com uma finalidade
educacional. Por exemplo: nós encontramos um aplicativo de mapas, que
está na categoria Navegação. Tudo bem, isso ajuda a velejar, mas também
pode ser usado em sala de aula”, explica o estudante de matemática.
Diante dessa possiblidade, a dupla decidiu analisar todos os
programas disponíveis na plataforma até dezembro de 2015. Ao todo, foram
1700 aplicativos avaliados. “Nós analisamos a interface, o idioma e
como o aplicativo funciona de maneira geral. Nós instalamos em um tablet
para testar aqueles que nós consideramos que poderiam ser usados”.
A tabela está disponível em português, e também conta com versões em inglês, espanhol, francês e italiano.