Autor: Bernard Charlot
Revista de Ciências da Educação
Unidade de I&D de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa
Quando os meus filhos franceses voltavam da escola, na década de 80, eu perguntava: "trabalhou bem na escola?". Hoje, quando os meus filhos brasileiros chegam em casa, a minha pergunta é outra: "estudou bem na escola?". Essa mudança está ligada às minhas pesquisas e reflexões sobre a escola, mas remete também para as diferenças entre a língua francesa e a portuguesa. Em francês, diz-se que os alunos trabalham na escola. Em português, pelo menos no Brasil, não se diz que trabalham, mas que estudam na escola. Da mesma forma, em português, diz-se que o professor ensina e que o aluno aprende. Em francês, pode-se dizer que o professor ensina ou que ele aprende; ou seja, o professor aprende (ensina)(1) coisas a alunos que têm que aprender essas coisas. Uma terceira diferença parece-me interessante. Em português, o aluno acompanha o professor, ou a aula. Em francês, o aluno segue o professor, ou a aula. São dois modelos implícitos completamente diferentes. O modelo francês nomeia trabalho o que o aluno faz na escola, mas, de fato, destaca a atividade do professor: este "ensina" coisas ao aluno, que o deve "seguir". O modelo implícito português, ou, pelo menos, o modelo brasileiro, não designa a atividade do aluno como trabalho, mas ressalta a sua especificidade: o professor ensina, o aluno aprende; são duas atividades que não podem ser confundidas.
Essas diferenças me levam a duas questões. A questão central é a da atividade do aluno: qual é a natureza e a especificidade da atividade do aluno na escola? A segunda questão é menos importante, mas tem relevância também: será que essa atividade do aluno merece o nome de trabalho?
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